Enquadramento
A expansão do Ensino Superior (ES) pode ser entendida não apenas pelo número mais alargado de estudantes, mas também pela sua diversidade em termos de heterogeneidade, nomeadamente diferentes percursos sociais e culturais, bem como diferentes experiências educativas e expetativas, o que se traduz numa série de exigências em termos do processo de transição.
Esta transição poderá ser caracterizada por uma série de mudanças que ocorre ao nível das novas exigências decorrentes do papel assumido enquanto estudante ou do ambiente de aprendizagem. Representa uma mudança significativa na vida, perceção de autoconceito e aprendizagem do estudante, nomeadamente para novos significados de compreensão, desenvolvimento e maturidade. Este processo de transição não implica apenas uma mudança nas atividades relacionadas com o estudo e as exigências relacionadas com a gestão do tempo, mas implica também uma nova situação social como o stress relacionado com a situação financeira, o fazer novas amizades, o afastamento de casa ou tornar-se um adulto independente.
É expectável que os estudantes do ES trabalhem de forma independente, mas muitos apresentam uma dificuldade de ajustamento aos métodos de ensino, ao cumprimento dos prazos ou relativamente à compreensão acerca da melhor abordagem à aprendizagem, bem como pobres competências de autorregulação para estudar de uma forma considerada eficaz. Considerando assim as exigências relacionadas com o novo papel assumido e com o novo ambiente de aprendizagem, esta transição poderá ser potenciadora de stress, sendo que os estudantes colocam muitas vezes em causa a sua filosofia de compromisso e permanência neste percurso académico, o que origina consequências no seu funcionamento a longo prazo.
São diversos os estudos que identificam uma elevada prevalência de problemas de saúde mental nos estudantes do ES e que se encontra, muitas vezes, associada aos desafios vivenciados não só em termos da transição para este ciclo de ensino mas também ao longo de todo o percurso académico, nomeadamente a mudança de residência, a elevada carga horária, a exigência e pressão académica ou a necessidade de conciliação da vida académica com a vida profissional.
Se antes do período da pandemia COVID-19, a sobrecarga relacionada com problemas de saúde mental era já bastante significativa junto da população europeia mais jovem, nomeadamente sintomas de depressão e ansiedade, bem como ideação suicida, os resultados apontam para um aumento destes problemas no período pandémico e pós-pandémico. Os estudos demonstram que no decurso e no período pós pandemia, os estudantes do ES apresentaram elevados níveis de ansiedade e de depressão e problemas emocionais.
Tal como é referido no Programa para a Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior, a saúde mental e o bem-estar dos estudantes do ES são essenciais para desenvolver e alcançar sucesso no seu percurso académico e no respetivo processo de formação e desenvolvimento pessoal global.
Considerando que à data atual se encontram matriculados no ES (ensino universitário e politécnico) cerca de 448 000 estudantes (PORDATA, 2024), cuja maioria se situa na faixa etária entre os 18 e os 25 anos (idades que os especialistas identificam como crítica para o aparecimento de doenças mentais graves) e sendo a transição para o ES vivenciada, por muitos estudantes, com dificuldades de adaptação, ajustamento, manifestações de ansiedade ou outros sintomas com impacto na sua saúde mental, torna-se imperativo a criação e implementação de respostas diferenciadoras na área da saúde mental e do bem-estar.
Considerando a importância que o ES assume na vida dos estudantes, é importante reconhecer que para uma adequada transição e eficaz integração no contexto académico é fundamental que conheçam, antecipem e reflitam sobre um conjunto de novos desafios desta nova etapa da sua vida e que conheçam o contexto, as estratégias e as estruturas de suporte que se lhes apresentam.