Gabinete de Apoio Psico-Pedagógico (GAPP)
Vivemos atualmente numa sociedade que nos impõe desafios constantes, colocando-nos muitas vezes em situações de maior fragilidade e vulnerabilidade, com sérias dificuldades de adaptação e ajustamento, sendo que esta é também uma realidade vivenciada por muitos dos estudantes que iniciam o seu percurso académico no ensino superior. A entrada no ensino superior significa, para a maioria dos estudantes, o confronto com um novo contexto institucional e o seu conjunto de normas próprias, com as tarefas académicas que impõem novas competências de estudo, assim como níveis mais elevados de organização, autonomia e envolvimento da parte dos estudantes, bem como a construção de respostas eficazes às exigências académicas. No entanto, esta experiência não se limita apenas à formação intelectual e/ou profissional, mas implica também uma série de alterações e transformações nas redes sociais e de suporte dos estudantes, a saída de casa pela primeira vez para ir viver numa residência de estudantes, apartamento ou quarto alugado numa outra cidade e todo um conjunto de novas responsabilidades como as tarefas do dia-a-dia, impulsionadoras do desenvolvimento da autonomia. Muitos estudantes são afetados pela separação da família e dos amigos, importantes fontes de suporte social ao longo das suas vidas e a transição, para o ensino superior, implica uma maior consciencialização acerca de um conjunto de exigências e de desafios académicos e psicossociais, sendo que há uma percentagem significativa que vivencia dificuldades de adaptação e que põe em causa a sua filosofia de compromisso e permanência neste percurso académico.
Fruto destas exigências e da maior ou menor capacidade de ajustamento, a investigação tem mostrado que as dificuldades de adaptação ao ensino superior se relacionam, muitas vezes, com o facto de os estudantes serem pouco eficazes na utilização de métodos de estudo, mas também com a maior responsabilização e autonomia para a aprendizagem, o envolvimento com o processo formativo, a gestão do tempo ou a definição de metas e estratégias. Este é sem dúvida um momento marcante no desenvolvimento psicossocial do estudante, emergindo assim novos padrões de comportamento e vivências, quer sociais quer afetivas, e que são típicos deste meio académico.
Sendo este processo de transição potencialmente gerador de stress e ansiedade e porque é vivenciado de forma diferente por cada estudante, poderá ter consequências ao nível do desenvolvimento psicológico e em outras situações específicas, ampliar problemas de saúde mental pré-existentes. Tendencialmente são os estudantes, que ingressam no primeiro ano do ensino superior, que tendem a experimentar maior stress, ansiedade, angústia e depressão, comparativamente aos colegas de outros anos posteriores. No entanto, existem diversos estudos que apontam para o facto de que existem fatores protetores que permitem uma resposta positiva ao stress, como a rede social (família e amigos), a capacidade de autorregulação, a flexibilidade cognitiva e a autoperceção relativa aos acontecimentos, nomeadamente o otimismo e/ou o pessimismo Tendo em consideração todas estas questões, torna-se premente procurar um equilíbrio entre os desafios que o novo contexto de vida impõe aos estudantes e o tipo de resposta das respetivas IES, já que são diversas as investigações que mostram que a qualidade da adaptação passa pelo grau de ajustamento e a correspondência entre as necessidades, interesses e valores dos estudantes e os recursos, clima organizacional e oportunidades das formações oferecidas. As IES deverão contemplar, nas suas estratégias de intervenção, objetivos que sejam claros e consistentes das metas desenvolvimentais e de sucesso que pretendem atingir, implementando serviços de apoio aos seus estudantes e que permitam cobrir um vasto campo de atuação, não só em termos da sua diversidade, mas também em termos das problemáticas académicas e sociais.